este blog termina aqui.
ouvi dizer que se mudou umas ruas mais abaixo. se vos apetecer de facto dar este passeio, eu ensino-vos o caminho.
é por aqui:
http://wwwcassamia.blogspot.com
se não vos apetecer, obrigada por terem estado em mi cassa.
até sempre!
apesar de terem entrado pela mesma porta, hoje encontram-se em mim,
a tristeza
a alegria
ambas celebram
o riso
a lágrima.
a primeira chora a morte da irmã do meu querido miguel.
a outra, ri o nascimento da minha querida xana.
aos dois
o meu amor.
quando perdi o meu primeiro filho soube-me a desilusão e vergonha.
quando perdi o meu último filho soube-me a morte.
fiquei sem saber se desde então o meu paladar se alterou para sempre na incapacidade de distinguir os diferentes sabores, ou se pelo contrário, ficou de tal forma apurado e refinado, que o mais ínfimo condimento se me afigura como o mais profundo dos sabores.
nesta indecisão, duas coisas vão acontecendo,
a vida
e a morte.
a morte durante o tempo,
e a vida nos intervalos.
quanto a mim, nunca mais soube oque ando aqui a fazer.
só o meu paladar persiste.
não existe.
não existe mesmo. eu verifiquei.
esventrei-me até à fronteira entre a vida e morte, não deixando que uma ou outra prevalecesse. não existe de facto.
é tudo uma mera fantasia.
é tudo uma mera quimera!
alguém me enganou de uma forma muito cruel. e durante muito tempo assim me enganou. agora cosida ninguém me quer.
agora cosida,
também eu já não me quero.
verifiquei mais que uma vez, porque muitas vezes mente o olhar. mas não existe. disseram que iria ser de outra forma, mas nunca mais vinha e eu com toda a pressa do segundo que pinga, esventrei-me e fui verificar.
não.
de facto não existe.
e eu não acredito.
ter prazer
no simples prazer
de ter prazer
no prazer
mas também podemos
às vezes
morrer
Bendito seja o mesmo sol de outras terras
Que faz meus irmãos todos os homens
Porque todos os homens, um momento no dia, o olham como eu,
E, nesse puro momento
Todo limpo e sensível
Regressam lacrimosamente
E com um suspiro que mal sentem
Ao homem verdadeiro e primitivo
Que via o Sol nascer e ainda o não adorava.
Porque isso é natural — mais natural
Que adorar o ouro e Deus
E a arte e a moral ... caeiro
depois disto quero pensar nos genocídios por aí espalhados como as folhas do outono que nos enchem os passeios.. quero pensar nos milhares de meninas que morrem imediatamente antes ou depois de nascer só porque são isso: meninas e os chinenes não querem meninas e comem cães..nos putos que têm dois orgãos: a pele e a pele, fina e transparente, onde visíveis estão as vísceras e de roupa têm as moscas..
depois disto também me apeece chorar perante o facto indiscutível que vejo o sol e não o adoro, o facto também indiscutível, que sou completamente co-responsável por tudo quanto me lembro ao ler isto.. faço parte da mesma engrenagem maquiavélica.
sinto-me então uma profunda e verdadeira assassina. duplamente assassina. porque deixo que o genocídio exista, porque deixo que a menina porque é fêmea, morra, porque deixo que as moscas matem lentamente os orgãos dos putos em africa, porque quero muito muito matar o papa nao sei das quantas, porque o cabrão podia vestir uma simples camisola de algodão e dar cor às peles dos putos, por exemplo, porque quero muito muuito matar os filhos da puta todos que têm o poder que eu não tenho, porque valorizam mais o dinheiro que o sol natural que a todos irmana.
estou só até ao âmago, estou carente até ao âmago, estou triste até ao âmago. torno-me insolúvel, petrifico. mesmo sendo tudo mentira, esta é a maior de todas as verdades. se não me amarem rápido, depressa, muito... depois tudo pode acontecer com mentiras e verdades desta natureza.
ou mesmo nada.
por mais que se percorram meandros emocionais e ou racionais, creio que no fundo tudo retorna absolutamente indiferente a esses percursos anteriores.
a nossa capacidade de avalição e discernimento, julgada já no auge da sua maturidade e plenitude serena, desmorona-se ainda mais facilmente que um monte de areia perante a brisa. num instante, tudo o que era deixa completamente de ser, não porque não o fosse verdadeiramente, mas simplesmente porque as perspectivas, por este ou outro qualquer motivo, se alteraram.
de repente, nessa instante, sentem-se as pernas tremer, uma vontade grandiosa de fugir, de não querer a verdade escondida na mentira que vemos refletida. apodera-se um medo desconhecido, um medo julgado já morto e enterrado, comido pelos bichos.
espreita-se para a natureza desse medo, na ânsia que provenha de uma qualquer natureza do éter, para se descobrir com assombro que é tão real como a pele enrugada debaixo dos olhos. nesse instante ainda, todas as perspectivas se alteram.
julga-se estática e firme na sua perenidade. pede-se uma maozinha ao sarcasmo e diz-se levianamente: eu não, a mim não, eu não, a mim nunca mais. muito levianamente.
e diz-se assim, não porque não queiramos acreditar na nova perspectiva que sem querer se esbarrou contra nós, nós areia, ela, brisa, mas precisamente porque acreditamos que assim foi contra nós.
e não a queremos, não a aceitamos, porque a queremos mais que tudo. porque indiscutivelmente, ansiamos que ela nos queira a nós. desta forma não será culpa nossa, não será escolha nossa. foi ela que nos quis e aceitou a nós.
nesta mentira encontramos o conforto da verdade.
e só depois o desconforto da verdade nos atinge.
a luz nas suas diferentes manifestações, poderá constituir uma perfeita metáfora da palavra, entenda-se o verbo.
também ele, possui uma presença, uma sombra e uma luz própria.
tem sido aqui discutidas palavras, nomeadamente, entre mim, micassa, e a minha corretora ortográfica pessoal, e esta discussão, suscita-me obrigatoriamente novas reflexões.
não se discutirá aqui novamente a mesma palavra, apenas a presença, a sombra e a luz de qualquer uma delas.
a objectividade e a subjectividade atribuem ao verbo por um lado a sua complexidade que, entre outros, nos pode conduzir ao caminho da literatura por exemplo; e a sua ineficiência por outro, pois ele torna-se de facto ineficiente, quando pretende assumir unica e exclusivamente a sua presença, sem indicios de sombra ou luz.
em todo e qualquer diálogo que se estabelece, a sombra e a luz acompanham sempre a presença do verbo. etéreo e onírico é igualmente de raíz concreta.
a busca pela raíz quadrada da alma é uma busca inglória.
existe o coito entre os animais da mesma espécie. e nós, como espécie, apenas nos diferenciamos, porque nesse coito o verbo se enche de sombra e luz.
estive enamorada por mãos, estive enamorada por olhos, estive enamorada por rabos, e bem recentemente enamorei-me por uma voz. em todas estas sombras e luzes, o verbo esteve presente, independente do coito, que nem sempre aconteceu. a animalidade, as vísceras, são, e eloquentemente pessoa o explicou, apenas uma extensão da alma.
o que o verbo produz, para a paz e para a guerra, e este é de facto o seu poder real e não o seu poder metafórico, produz apenas porque a acompanhá-lo existe sempre a sombra e a luz.
entre o que queremos dizer e o que dizemos, está unicamente a variação da luz que pode ser maior ou menor, intensa ou fraca, surgindo desta as diferentes sombras. o verbo na sua presença, está sempre perdido algures no meio, entre o que dizemos e o que queremos dizer.
porque do outro lado,
e existe sempre um outro lado para tudo, como já tantas tantas vezes o disse,
está alguém que se serpenteia da mesma forma entre o que ouve, o que julga ouvir e o que quer ouvir.
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